Aqui fica mais um apontamento de Miguel Ángel Santos Guerra...
«Descer ao seu nível
ou ascender até às suas vivências?
Não sei ondem estão,
nem em que consistem esses desníveis.
Também costumamos dizer:
"Há que guardar as distâncias".
Não sei sequer qual é
o peso e o sentido desses espaços
claramente psicológicos.
Estás necessariamente afastado
e é vã qualquer tentativa de aproximação?
Ou realmente atravessas abismos,
vences desníveis, preenches falhas de relação?
Suponhamos que assim é,
que podemos estar ao seu lado,
"descer" (ou "ascender") dos nossos preconceitos,
das nossas crenças,
dos nossos costumes inveterados,
ao íntimo da sua realidade,
dos seus interesses e emoções.
Suponhamos que assim é.
Que pretendemos nós?
Será que são eles que necessitam de nós,
ou antes, não seremos nós,
sim, nós, os adultos, a necessitar deles?
Pode ser que toda a tentativa de aproximação
mais não seja do que um engano camuflado, porque - no fundo - eles continuarão a ser alunos,
e nós continuaremos senhores do poder
e da força do castigo e da reprovação,
da sabedoria e da experiência,
da capacidade última de vetar e decidir.
Afinal,
toda a aproximação é uma ilusão,
uma miragem,
um disfarce?
Estamos inequivocamente afastados
porque a profissão,
os objectivos e as funções,
as expectativas e as responsabilidades
são radicalmente distintas?
Será melhor, então,
guardar convenientemente as distâncias,
exigir - ou deixar - que te tratem por senhor,
que te tratem sem excepção por você,
que tenham em conta "a tua posição"?
Não vá a mão no ombro
converter-se num jugo de servidão.
Não vá a proximidade transformar-se em controlo
e a companhia em amputação da liberdade.
Por outro lado,
que fazemos nós tão afastados quando eles gritam
pedindo ajuda,
e não os podemos ouvir?
Para que servimos nós se nunca nos ouvem
quando falamos
para ensinar, orientar ou estimular?
Quem somos nós, como educadores,
se não formos alguém que está a seu lado,
que caminha a seu lado,
pelos mesmíssimos atalhos da vida?»